Oi pessoal! Tudo bem com vocês? Espero que sim! Aqui é Rafael Bravo, Defensor Público Federal, professor e orientador de estudos dirigidos para concursos das carreiras jurídicas (Magistratura, Defensoria, MP, dentre outros).
Considerando a prova da PF e da
DPE/RJ que se aproximam, hoje trago uma dica de criminologia para vocês, sobre
uma escola criminológica que despenca em provas de concurso. Aliás, quero
lembrá-los que criminologia é uma disciplina que não pode ser deixada de lado
em provas de Defensoria e de Delegado, pessoal! O estudo dessa matéria traz
pontos valiosos que podem ajudá-los a garantir uma boa vantagem em relação à
concorrência.
A postagem de hoje é sobre a
Teoria da Anomia, que inclusive foi cobrada na última prova de delegado da PF
(2018). Eis a assertiva:
De acordo com a teoria da
anomia, o crime se origina da impossibilidade social do indivíduo de atingir
suas metas pessoais, o que o faz negar a norma imposta e criar suas próprias
regras, conforme o seu próprio interesse.
Você saberia responder se ela é
certa ou errada?
A assertiva é correta. Agora
vamos entender o porquê!
Primeiramente, o termo “anomia” significa ausência de normas. Anomia = sem normas. Isso é, uma situação na qual não existem regras.
Émile Durkheim (fundador da
sociologia) cunhou o termo anomia para designar uma situação de falta de
objetivos sociais e ausência de normas e de enfraquecimento da consciência
coletiva.
Durkheim entende sociedade como um corpo (faz nascer o funcionalismo, uma visão da sociedade sem conflitos, em que tudo deve funcionar de acordo com os papeis socialmente atribuídos a cada indivíduo), de maneira que dentro da sociedade cada um deve identificar qual função deverá exercer.
Para que isso funcione, é preciso
de conceito de consciência coletiva. Cada sociedade tem uma consciência
coletiva, que é o conjunto de valores, regras, modos de atuar partilhados por
toda a sociedade.
O crime para Durkheim é natural,
tem uma função dentro da sociedade, não é anomalia por si só. Quando fala em
anomia, o sociólogo se refere ao esfacelamento social, não o crime em si mesmo.
O estado de anomia é o estado no qual população deixa de respeitar normas
vigentes no consenso coletivo, momento em que se perde a chamada consciência
coletiva e sequer há sociedade, mas tão somente um aglomerado de pessoas.
Para Durkheim, o crime é
socialmente útil porque é a violação da norma que garante à consciência coletiva
a sua mobilidade e sua plasticidade. Exemplo: a reação social causada pelo
cometimento de um homicídio deixa mais fortes os valores sociais. Todavia, a anomia
acontece a partir do momento em que todo mundo viesse a praticar crimes,
ocorrendo esfacelamento total da consciência coletiva.
Por isso, se diz que Durkheim é o
“pai” da anomia, pois foi ele quem pensou primeiramente no termo em seus
aspectos sociológicos. Na perspectiva criminológica, a principal contribuição
de Durkheim foi compreender o crime a partir das estruturas sociais, ou seja,
compreender o fenômeno criminal como um fenômeno social cultural, olhar a
questão a partir da função do crime na sociedade. Ele concluiu que o
cometimento de crimes é um fenômeno normal de toda estrutura social e somente
quando se ultrapassam certos limites é que o crime é um fenômeno negativo (a
anomia). Todavia, foi Merton quem melhor desenvolveu essa teoria dentro da
criminologia.
Robert K. Merton utiliza o
conceito de anomia e constrói uma teoria criminológica, trazendo as ideias de
Durkheim para a criminologia. Merton entende crime como algo normal de toda a
sociedade, enquanto a anomia está presente apenas se os índices de
criminalidade são muito grandes.
Dentro de uma sociedade
capitalista, as metas culturais normalmente se relacionam com dinheiro,
prestígio, bens materiais, etc. Para adquirir tais metas, há meios
institucionalizados e meios não institucionais. Meios institucionais são
ferramentas como por exemplo escola, trabalho, igreja, família – mas, nem todos
os possuem.
Nesse sentido, em um modo
conformista de adaptação da sociedade a pessoa possui as metas culturais e tem
os modos institucionalizados. Ou seja, são pessoas que têm condições de ter uma
vida confortável dentro dos padrões que são vendidos como os aceitáveis dentro
de uma sociedade capitalista.
Por outro lado, nos modos não
conformistas, algumas pessoas não absorvem as metas culturais e não têm os
meios institucionais para alcançar as metas culturais.
Nessa perspectiva, o autor
desenvolve os seguintes conceitos:
·
Ritualismo: algumas pessoas não possuem
as metas culturais, mas possuem os meios institucionalizados para alcançá-las. Possuem
os meios institucionalizados, mas não têm vontade de alçar metas culturais.
·
Inovação: algumas pessoas absorvem as
metas culturais, mas não absorvem os meios institucionalizados. É o crime. É a
forma de adquirir formas de metas sociais de maneira não conformista, sem ser
pelos meios institucionalizados. Exemplo: a pessoa que ter um tênis da moda,
mas não tem dinheiro para comprar. Se não tem os meios para comprar aquele
tênis que é moda, vai tentar inovar, atingir as metas culturais por meios não
institucionalizado. Esses meios não aceitos socialmente, como é o caso do furto.
Aqui é a principal relação com a anomia, pois tais indivíduos rompem com as
normas para alcançar as metas culturais.
·
Rebelião: a pessoa absorve parcialmente
as metas culturais e parcialmente tem os meios institucionalizados, mas
contesta metas culturais. São os chamados movimentos revolucionários e da
contracultura. Em outras palavras, na rebelião a pessoa entende as metas culturais
e discorda delas, buscando a mudança dessa própria sociedade.
·
Evasão/retraimento: são indivíduos que
rejeitam as metas culturais e não possuem os meios institucionalizados para
obtê-las, mas que não atuam ativamente para a transformação da sociedade.
Nesse sentido, conforme expressa
a assertiva da PF 2018, para a teoria da anomia, o crime se origina da
impossibilidade social do indivíduo de atingir suas metas pessoais, o que o faz
negar a norma imposta (inovação) e criar suas próprias regras, conforme o seu
próprio interesse.
Gostaram da dica? Espero que sim!
Desejo a todos sucesso e bons
estudos!
Rafael Bravo
Instagram com dicas:
@rafaelbravog
e-mail:
rafaelbravo.coaching@gmail.com
Didático. Muito bom!
ResponderExcluirSeria possível fazer uma associação da teoria da anomia com a pandemia e suas variantes (pessoas que não respeitam o uso de mascara, que se negam a vacina, etc)?
ResponderExcluirSeria possível associar a teoria da anomia com a pandemia e suas variantes (pessoas que se negam a respeitar os protocolos como uso da mascara, a vacinação coletiva, etc)?
ResponderExcluirshow
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